quinta-feira, 7 de maio de 2009

MORTE NO CABARÉ

O cabaré ficava bem proximo à Delegacia de Polícia. Freguês igual ao cabo Saturnino só se fosse para igualar. Era um freguês assíduo do cabaré Dama-da-noite. Meninas vinham de todo canto. De Simão Dias, Carira, Poço Verde, Pinhão e do sertão da Bahia. A dona do cabaré chama-se Lourdinha. Naquele tempo, quando uma puta envelhecia, ia ser dona de cabaré, afinal carne velha ninguém queria.
No trecho do cabaré era só festa. Os homens casados por lá davam uma passadinha. Era preciso muita cautela. Se a visita chegasse ao conhecimento da beata Valquíria, coitado do sem-vergonha. A fofoqueira ainda queria receber de presente o reino do céu. Morta, se lá chegasse no paraíso, ia causar tanto dano a São Pedro , que ele era capaz de enlouquecer. Os alunos do Colégio Sílvio Romero davam também uns pulinhos no cabaré, visando perder o perfil de donzelo. Quando Zaqueu, um menino do povoado Treze, quebrou o cabresto, foi sangue pra todo lado. Mesmo com o dano sofrido, o indivíduo ficou feliz.
Coisa que ninguém esquece e que dá uma saudade danada! foi no dia que chegou Carminha. Êta menina bonita! Natural da cidade de Carira. Olhos verdes, corpo das Deusas gregas. Seios avantajados, pernas e bundas que imaginem! Foi o comentário da cidade. De pele clara, cabelos longos.
Quem primeiro deitou com a menina foi Tiago, filho do fazendeiro Demétrio, prometeu casamento, mas depois que conheceu a pobre menina, adeus!
A menina fazia o vaivém chorando, não se sabe se era de desgosto ou de prazer.
Carminha sempre foi uma menina de pouca fala. Puxar conversa não era com ela. Diferenciava de Rute, uma matraca de Igreja. Quando disparava a língua, a conversa anoitecia.
E foi numa segunda-feira, que a morte chegou ao cabaré. Às nove horas da manhã, com a chegada dos primeiros fregueses, a pobre menina estava lá caída, de pulsos cortados, sem respiração, se matou.
Ninguém descobriu a razão do suicídio.
O sapateiro Zequinha:
- Tão calma, tão calada, foi fazer uma besteira desta.
Manuca, cachaceiro de primeira linha, chegou a dizer:
- Se bebesse não se matava, eu bebo pra esquecer.
A sentença final veio de dona Carminha:
- ESTA GENTE CALADA É CAPAZ DE TUDO!